terça-feira, 18 de setembro de 2012

Fósseis no RN

RN É RICO EM FOSSEIS , MAS INVESTIMENTOS SÃO RAROS '

Quem nunca se pegou pensando quando e como nasceu a vida na terra? Como se deu a evolução dos animais e dos seres humanos? Pelo menos uma vez na vida, todos nós já fizemos esses e outros questionamentos a respeito da vida. Essas e outras dúvidas podem ser respondidas a partir de uma ciência chamada Paleontologia.

"A Paleontologia estuda as evi
dências da vida pré-histórica preservadas nas rochas, os fósseis, mas essa ciência também tem uma importância econômica, pois estudando os fósseis dá para saber que ambiente era aquele, se era mar ou deserto, por exemplo. E a partir dessas descobertas nós temos informações sobre bens minerais e energéticos", explicou o paleontólogo e professor do Departamento de Geologia da UFRN, Narendra Srivastava.

Apesar de toda a importância, aqui no Rio Grande do Norte, os investimentos nessa área ainda são muito fracos. "De zero a dez, eu diria que os investimentos estão abaixo da média. E olhe que o RN é um estado rico em fóssil", disse o professor Narendra. E ele tem lá suas razões, a começar pela estrutura disponibilizada. Por falta de um espaço adequado, boa parte dos fósseis minerais fica amontoada na sala do professor.

Mas apesar das dificuldades, a UFRN tem um bom acervo de fósseis. As peças de animais vertebrados, como elefante, baleia e outros animais ficam no museu Câmara Cascudo, já a Universidade fica com as rochas e os fósseis mais antigos. "Nós temos aqui na UFRN, a mais antiga evidência da vida. São os estromatólitos, que têm uma idade de dois bilhões e 300 milhões de anos e foram encontrados em Minas Gerais", disse Narendra.

Estromatólitos (do grego stroma = cama, camada e lithos = rochas) são estruturas organo-sedimentares produzidas pelo aprisionamento, retenção de sedimentos resultante do crescimento e da atividade metabólica de microorganismos, principalmente cianobactérias (algas azuis).

De acordo com o professor, alguns estudiosos acreditam que essas cianobactérias foram possivelmente responsáveis pela geração de parte do oxigênio da antiga atmosfera terrestre, sendo a forma de vida dominante por mais de 2 bilhões de anos. Mas a mais antiga evidência de vida na terra data de quatro bilhões de anos e está na Islândia. Aqui no Estado os fósseis mais antigos possuem 135 milhões de anos. Um exemplo é um pedaço de tronco de Pinheiro que foi encontrado na região de Pau dos Ferros, durante algumas das expedições realizadas pelo professor Narendra.

O acervo também é formado por fósseis de piabas, muriçocas, peixes, folhas, rochas, entre outras 'jóias' do tempo. No RN, os melhores lugares para encontrar fósseis são nos municípios de Ouro Branco, Caicó, Areia Branca, Mossoró, João Câmara, Jandaíra. "Os fósseis são encontrados em rochas sedimentares, principalmente de calcários, e nesses locais existem bastante rochas desse tipo", disse o professor.

Pesquisa é dividida em duas etapas

Mas encontrar um fóssil não é uma tarefa fácil. É preciso muito estudo e, principalmente, paciência para passar horas e horas procurando-os. "Às vezes eles são tão pequenos que só podem ser vistos através do microscópio e aí cabe ao paleontólogo saber se naquele ambiente pode existir um fóssil.", disse o professor.

As pesquisas são divididas em duas etapas. A primeira é a viagem de campo para procurar os fósseis. "É nessa parte que entra a paciência porque, na maioria das vezes, os fósseis não estão à mostra. É preciso procurar, cavar e leva um certo tempo. Por isso é sempre bom fazer um estudo da região que vai ser explorada", explicou o paleontólogo.

A segunda parte é a coleta de amostras. Depois de encontrados, os fósseis são levados para o laboratório, onde são feitos estudos para saber, entre outras características, a idade da peça encontrada.

A UFRN possui um laboratório especializado para identificar os fósseis, mas não tem a estrutura necessária para descobrir a idade deles. "Existem duas maneiras para datarmos os fósseis, uma é através da comparação com outros fósseis. Ou seja, analisando determinadas características eu tenho como saber a idade dele. Isso a gente pode fazer aqui. Mas a outra forma, que chamamos de datação isotópica não temos como fazer aqui, só em laboratórios de São Paulo ou nos Estados Unidos. Aqui no Nordeste, apenas o Estado de Pernambuco faz a datação isotópica", explicou Narendra.

A datação isotópica utiliza isótopos de elementos químicos, como por exemplo, o carbono 14. Através de experimentos, os cientistas conseguem saber a proporção de carbono-14 em um ser vivo, planta ou animal. Essa proporção, no entanto, começa a mudar a partir do momento em que o organismo morre. Nesse instante, é acionado um 'relógio nuclear' que consiste na percentagem decrescente de carbono-14 no organismo que morreu. Para saber há quanto tempo o organismo morreu basta medir, quanto carbono-14 resta em seu corpo ou parte dele.

Experimentos como esses precisam de equipamentos modernos e, na maioria da vezes, onerosos, como microscópio eletrônico de um milhão de reais. Talvez esse seja um dos motivos para a falta de investimento por parte de empresas e, até mesmo das universidades. Para se ter uma idéia, o custo de uma pesquisa pode chegar a R$100 mil ou até mais, dependendo do tipo de estudo.

"Temos dificuldades em conseguir recursos, aqui na UFRN sempre tentamos através do CNPq. Poderíamos contar com parcerias de empresas que trabalham no campo da mineração, mas as que realizam essas pesquisas, como a Petrobras, preferem não divulgar informações. Elas contratam geólogos particulares para que esses trabalhos sejam desenvolvidos no maior sigilo".

Professores descobrem nanofósseis

Mesmo com todas as dificuldades os nossos paleontólogos conseguem fazer descobertas interessantes, como a do professor Narenda Srivastava que descobriu os primeiros microfósseis do Arquipélago de São Pedro e São Paulo, que fica a mil quilômetros de Natal, no hemisfério Norte.

"Eu e um outro pesquisador encontramos os nanofósseis de calcário, um grupo de fósseis com tamanho menor do que 6,3 micros. Fazendo uma comparação, eles são bem menores do que um grão de areia", disse o professor.

Eles são investigados tanto do ponto de vista paleontológico quanto do geoquímico. Com relação à geoquímica, os nanofósseis são vistos como partículas minerais, cuja constituição reflete a composição química do meio em que foram formados (água do mar). "Sabendo a composição química ambiente temos condições de saber que tipos de minerais possuem", disse Narendra.

Para essa pesquisa o professor contou com a ajuda da Marinha do Brasil que ofereceu o transporte e a hospedagem. "Essa pesquisa custou cerca de R$50 mil".

Fósseis do RN vão para Minas Gerais

Cerca de quatro toneladas de material contendo fósseis de moluscos, retirados da região do Vale do Açu, foram enviados no início deste mês para análise em um instituto de Minas Gerais. A descoberta dos fósseis ocorreu durante as escavações para a construção do gasoduto Açu-Serra do Mel, ocorridas entre março e dezembro do ano passado. As amostras vão ser examinadas no Centro de Pesquisas Paleontológicas "Llewellyn Ivor Price", ligado à Fundação Municipal de Ensino Superior de Uberaba.

De acordo com a Petrobras, responsável pelo gasoduto, o centro ficou responsável pelo Programa de Monitoramento de Registros Fósseis, para "verificar a possibilidade de haver algum tipo de achado paleontológico na área do empreendimento".

A Petrobras informou que, após a identificação, a área foi isolada "com o devido acompanhamento de um profissional de paleontologia", só então foi feito o resgate do material, enviado em uma única remessa a Uberaba. "Antes do envio do material ocorreu o repasse da informação, pelo centro, para o Departamento Nacional de Produção Mineral (DNMP) regional do RN. A saída do material foi acompanhada por um paleontólogo do DNPM de Brasília e um representante do DNPM-RN", esclareceu ainda a estatal.

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